terça-feira, 29 de setembro de 2009

Eleições Legislativas - Resultados na Palhaça

PPD/PSD
52,93%
795 (votos)

CDS-PP
23,10%
347

PS
11,72%
176

B.E.
4,99%
75

PCP-PEV
1,07%
16


MMS
0,60%
9


PCTP/MRPP
0,33%
5

PPM
0,27%
4

MEP
0,27%
4

PND
0,20%
3

P.N.R.
0,20%
3


MPT-P.H.
0,13%
2


PPV
0,07%
1


Abstenção na Freguesia de Palhaça:
Não Votaram 960 ( Apurados: 2.462 )
38.99%

Nulos: 25 (1,66%) |

Brancos: 37 (2,46%)

Eleições Legislativas 2009 - Resultados Nacionais

Futura composição da Assembleia da República:

PS – 36,6% (96 deputados)

PSD – 29,1% (78 deputados)

CDS-PP – 10,5% (21 deputados)

BE – 9,8% (16 deputados)

CDU – 7,9% (15 deputados)


Abstenção: 39,4%


Mais pormenores aqui.

domingo, 27 de setembro de 2009

Jorge de Sena (1919-1978): as flores tardias da admiração nacional

Regressar à Pátria seria o seu maior desejo, mas acabou por morrer no exílio. Só então apareceram os incondicionais defensores do seu regresso. A trasladação dos restos mortais de Jorge de Sena para Portugal foi dolorosamente adiada pela incúria do costume. É talvez a derradeira tentativa de reconciliar um dos portugueses mais cultos e civicamente mais desassombrados do século XX com a Pátria que lhe foi madrasta. Pasme-se: tudo aconteceu trinta e um anos depois de a Assembleia da República ter exprimido por unanimidade - três dias após a sua morte, em 4 de Junho de 1978 - uma recomendação para que os despojos do escritor viessem para Portugal. Tanta água correu já debaixo das pontes que, a estes anos de distância, o voto de pesar daquele órgão de soberania soa um pouco a voto piedoso de mero oportunismo político.

Não foi possível regressar em vida, mas o seu corpo repousa agora na terra portuguesa que tanto amou e ilustrou. Amou, sim, porque as suas muitas iras contra o país eram uma espécie de ternura do avesso; porque se pode ter razão na cólera quando se tem razão no amor, como afirmou Vergílio Ferreira. O azedume e o ressentimento gerados pela sua condição de emigrante forçado eram indisfarçáveis. Quando, em 1978, alguns amigos equacionaram a possibilidade do seu regresso, respondeu de forma desassombrada, numa entrevista concedida a Arnaldo Saraiva: não pedi, não peço e – mais – não aceito (1). Eis uma das muitas imprecações do escritor que falava na “desgraça de nascer num país que se empequenece irremediavelmente” (2).

Longe da Pátria, Jorge de Sena nunca foi um espectador da vida. Sempre irrequieto e interveniente, jamais deixou de ser uma presença constante na cultura portuguesa. Como queria viver em voz alta, foi para o exílio ensinar o muito que sabia e que por cá lhe era negado: primeiro no Brasil; depois nos Estados Unidos, onde foi professor catedrático na universidade de Santa Bárbara, na Califórnia. Aí morrerá prematuramente, com 59 anos, vitimado por um cancro do pulmão. Aconteceu num ano de 1978 demasiado funesto para a literatura portuguesa: além de Sena, desapareciam também do nosso convívio Vitorino Nemésio e Ruy Belo.

Foi no estrangeiro que produziu grande parte de uma obra fecunda e variada, com incursões na poesia, no ensaio, no teatro, no conto, na tradução, na crítica literária e na história da literatura, entre outras. Na muito vasta e a vários títulos notável obra do autor de Andanças do Demónio avulta também a copiosa troca epistolar com personalidades de reconhecido mérito na cultura portuguesa como são Eduardo Lourenço, Guilherme de Castilho, José-Augusto França, José Régio, Sophia de Mello Breyner ou Vergílio Ferreira. O correio era-lhe vital. Essas cartas de tempos cinzentos são, por assim dizer, o seu Diário; permitem conhecer melhor a sua personalidade e enorme capacidade de trabalho, os seus pensamentos e mágoas, a inteligência fulgurante, o estilo torrencial, o talento da sua escrita e a vastidão da sua cultura humanista e universalista, que não cabia nos frágeis caixilhos de um ambiente fechado como era o do Portugal do seu tempo de exílio.


Jorge de Sena lutou contra a morosidade e o descaso dos editores portugueses. Contra a falta de atenção à sua obra, que muito o feria por acreditar na força daquilo que publicava. Contra as injustiças de uma universidade conservadora que se negava a reconhecer as suas capacidades. Foi um homem que nunca se poupou, que sempre deu a cara, que teve a coragem de falar alto com inteira lucidez e desassombro. Cercado de adversidades, nunca foi ruminar desânimos e frustrações na Vale de Lobos do costume. Viveu intensamente e com paixão, sempre pronto a estragar a festa nacional, o nacional porreirismo, e a zurzir nos videirinhos do costume, a “canalha” e a “lítero-cambada”. Ripostava frontalmente, quase sempre com uma agressividade que muitos consideravam inútil, porque excessiva. Homem de eriçada sensibilidade, apetece dizer que se comprazia nessa situação de “mal amado”, sempre pronto a ferir a epiderme dos acomodados e insigne-ficantes das letras portuguesas. O Reino da Estupidez é uma sátira feroz onde mostra não transigir com a mediocridade e distribui vergastadas dolorosas na falsa erudição e na superficialidade de muitos falantes da mesma língua. O prólogo desta obra alude à sua “prosa mais áspera, mais amarga ou mais irónica” (3). Por muito amar a cultura é que se tornava impiedoso com os responsáveis pela sua contrafacção.


Embora tardiamente, faz-se justiça, com algum sabor de rendição (reconhecimento) para quem nunca se rendeu. Sena está entre nós, para sempre. Mais do que a uma mera convenção, assistiu-se à reconciliação definitiva de Portugal com um dos vultos mais inteligentes e cultos, e ao mesmo tempo mais incómodos (agora já um pouco mais cómodo...) da cultura portuguesa contemporânea. Na cerimónia religiosa da Basílica da Estrela estiveram de mãos dadas o sentimento e a admiração pela figura de Jorge de Sena. Repartição do pão justo e necessário, sem o habitual e sempre suspeito carpideirismo nacional.

Entretanto, muito ainda há a dizer sobre a sua rica, extensa e multifacetada obra. Jorge de Sena é uma espécie de argonauta intelectual sem paralelo entre nós. Apetece deixar aqui o recado de Eduardo Lourenço: “Quem já o leu que o releia e quem o não leu se meça linha a linha com o mais provocante e menos complacente dos nossos ensaístas” (4). Na verdade, a obra que nos lega – embora com a marca da controvérsia - é mais que suficiente para o manter vivo por muitos e muitos anos. O futuro há-de fazer-lhe justiça, vingando a dolorosa indiferença que os seus contemporâneos, com raras e honrosas excepções, sempre lhe devotaram. Repetindo o que Pessoa fazia o Alberto Caeiro dizer, não é possível que a gente faça o que faz para nada.

Embirro solenemente com homenagens enfatuadas ou rituais comemorativos em aniversários ou missas de sétimo dia, num tempo em que tudo é “histórico” e tudo e todos se comemoram, quase sempre sem nenhum merecimento. Mas este reconhecimento anda arredio a tais critérios. É justo e mais que merecido. Os que já tiveram o privilégio de ler Jorge de Sena não têm qualquer dúvida sobre isso.

Parece ter acabado, enfim, a duradoura conspiração de silêncio, o verdadeiro escândalo pelo qual todos somos, de certo modo, responsáveis: a morte e o exílio de Jorge de Sena fora de Portugal.

(1) O Jornal da Educação (n.º 11, Abril de 1978).
(2) Jorge de Sena/José-Augusto França, Correspondência. Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2007.
(3) Jorge de Sena, O Reino da Estupidez, Lisboa, Edições 70, p. 11.
(4) Eduardo Lourenço, “O último Sena”, Expresso, 11.01.1975.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Eleições - Outras vozes

PS, BE, CDU, PSD e CDS dispensam apresentações.

Ficam, abaixo, resumidas algumas das ideias dos outros partidos/coligações concorrentes às eleições legislativas de domingo, regra geral, menosprezados pelos media.


Dez à procura de um deputado

terça-feira, 22 de setembro de 2009

MOUVA 27/9: «Passem Por Nós no Coreto»

Mercado MOUVA encerra ciclo de 6 meses este domingo

Chega ao fim, este domingo, a primeira temporada da série MOUVA (Mercado de Objectos Usados, Víveres e Artesanato), um evento que tem assentado arraiais, no último domingo de cada mês, desde Abril, no Largo de São Pedro, na Palhaça. No encerramento, três momentos musicais, jogos, massagens, animação de rua, ioga do riso e espaço para crianças alinham no menu cultural e recreativo. Aos curiosos, a organização, os artistas e os vendedores apelam: «Passem por Nós no Coreto», ou participem, nas vendas ou artisticamente.

Era uma vez um «mercado-mais-do-que-mercado», aberto ao comércio sustentável, ao lazer, à saúde e à cultura, criado com o intuito de dinamizar uma praça, de reunir pessoas de diferentes idades e interesses, e deixar algumas marcas através das artes (música, poesia, fotografia, cinema, etc.). Eis a história do MOUVA, na Palhaça. Do artesanato urbano a tradicional, filatelia e numismática, passando por produtos agrícolas frescos, brinquedos, quinquilharias, antiguidades, bijuteria, limonada, doces, pão, música, filmes, roupa - de tudo um pouco tem passado pelo certame.

As montras de venda e as mostras de artes mantêm o espírito dos mercados anteriores, mas há apostas novas a reter: Ioga do Riso; música swing, numa performance interactiva comandada pelo saxofonista Henrique Portovedo; fado ligeiro, com António Fardilha e Fernando Bardot; um espaço-projecto de pinturas faciais chamado Pimpidu; uma performance centrada no corpo («Humanimalidades»); e um Espaço Encantado, um local de arte e massagens. Repescagens, também as há, para quem não teve oportunidade de assistir às suas actuações: BD (duo local de violino e guitarra) e os Palhatrapos («uma dupla de palhaços-músicos, divertidos e coloridos, o menino nos sopros e a menina na percussão»).

Em dia de eleições legislativas, a organização do MOUVA propõe um referendo sobre a continuidade deste evento. O MOUVA é de quem por ele/ali se move. Apareça. Entrada livre. Entre as 10h e as 17h, no Coreto de S. Pedro.

domingo, 6 de setembro de 2009

Curiosidades de uma viagem a Malta


1. Ir de férias é deixar para trás a floresta cerrada dos dias iguais e arrastados do trabalho, a rotina que cerca e encharca até aos ossos. Partir significa estar mais perto do desejo, acalentado ao longo do ano, de passar momentos diferentes, menos monótonos e repetitivos. De certo modo, as viagens reconduzem-nos a um tempo há muito perdido: o da leveza dos dias sem horários para cumprir, sem pressas ou compromissos. Tempo de inteira liberdade, de regresso ao castelo encantado da infância, onde habita a matéria de que são feitos os sonhos e os segredos mais temerários. Ao viajar soltamos o pé do lodo da vida. Iludimos o labirinto dos lugares habituais. Vamos ao encontro de um outro para quem também somos o outro.

2. Sem que nada o fizesse prever, este ano aconteceu-me ir a Malta. Da ilha – dito de modo mais correcto: do arquipélago encravado entre a Europa e a África, no Mediterrâneo central – conhecia vagamente a situação geográfica e ouvira falar, também de forma vaga, dos célebres Cavaleiros de Malta. Associava até o nome do país ao título de um livro de Dashiell Hammett, O Falcão de Malta, um policial famoso inspirado nos cavaleiros que pagavam um imposto anual de um falcão vivo ao rei de Espanha. Era tudo, e esse tudo era tão pouco, o que sabia de Malta...



3. Regressa-se sempre, naturalmente, mais enriquecido. No bornal dos conhecimentos históricos guardo notas sobre algumas civilizações que ocuparam as ilhas desde tempos imemoriais: cartagineses e romanos, bizantinos e muçulmanos, normandos e espanhóis, franceses e britânicos (as 8 pontas da cruz que é símbolo dos Cavaleiros de Malta correspondem a outras tantas línguas originais da Ordem); sobre estes cavaleiros, aprendi que construíram Valetta, palácios e fortificações, e que derrotaram os turcos que os cercaram no século XVI, desferindo um golpe fatal nas pretensões muçulmanas no mediterrâneo central.


Como curiosidade, e a atestar a presença portuguesa nos quatro cantos do mundo, encontrei, com alguma emoção, uma placa comemorativa afixada num aqueduto em La Valetta onde pode ler-se: “Em memória do almirante Marquês de Niza e dos marinheiros portugueses sob o seu comando, que morreram combatendo lado a lado com os malteses durante a insurreição popular de 2 de Setembro de 1798 contra o domínio francês”.


De facto, Napoleão conquistara Malta em 1798. À semelhança do que aconteceu em Portugal durante as invasões francesas, tudo o que era valioso foi pilhado pelos ocupantes. Os malteses revoltaram-se e pediram ajuda aos britânicos. Os portugueses, embora em menor número, também deram o seu contributo para derrotar os franceses.

4. Visitar palácios e templos, igrejas e catedrais; povoações piscatórias com seus barcos tradicionais de cores vivas, a balouçar na baía azul e um mercado diário que lembra muito a feira da Palhaça, pois para lá do peixe fresco vende-se todo o tipo de roupas, produtos hortícolas, CDs, lembranças e óculos de sol, entre outras bugigangas; saborear a gastronomia local; aceder às várias ilhas em excursões de barco ou através do ferry; conhecer praias de água cristalina, que convidam ao mergulho retemperador quando o sol dardeja raios inclementes que nos mordem a pele; apreciar a solenidade de penhascos e baías, falésias e enseadas, zonas naturais de cortar a respiração, particularmente belas ao entardecer; sentir a terra avermelhada a contrastar com o verde dos pomares; contactar com a música e o folclore da região; dar uma saltada à aldeia do Popeye, recriada para o filme deste herói lendário que faz as delícias da criançada. Tudo isto nos oferece Malta, miscelânia de lazer e cultura que só pode purificar o corpo e o espírito.




5. Comino, a meio caminho entre Malta e Gozo, é a ilha mais pequena do arquipélago. Para mim, também a mais paradisíaca, porque desabitada e intacta, com a sua Lagoa Azul e os aromas intensos a cominho (que lhe dá o nome) e outras ervas aromáticas.



As águas oscilam entre um azul-turquesa e um verde-esmeralda que inebriam os sentidos. E depois, a luminosidade, a claridade azul difícil de descrever, os aromas adocicados suspensos no ar. Dir-se-ia que os deuses andaram por aqui, que deixaram a sua marca neste lugar único e desde sempre pressentido. Espaço mágico e íntimo, ainda não manchado pela intervenção humana, onde nos sentimos felizes e reconciliados com a natureza e por algum tempo lavados das feridas da existência.




6. Se nas viagens se procura sempre algum exotismo, em Malta ele surge-nos diante dos olhos nos autocarros que datam seguramente de há meio século. São lentos, de um amarelo torrado com uma risca laranja. Conduz-se pela esquerda e os preços são bastante convidativos. Em todos eles encontramos iconografia religiosa, complementada com dizeres do tipo: In God we believe/We believe in God. Se não tocamos à campainha (puxando um fio que percorre o interior do tejadilho) o autocarro não pára e só podemos sair na estação seguinte. O parque automóvel é degradado, com carros (normalmente italianos) que já não circulam em países europeus mais desenvolvidos e ainda assim em mau estado de conservação: espelhos retrovisores partidos ou inexistentes, latas amolgadas ou riscadas.



7. Finalmente, e porque não há bela sem senão, nas águas cristalinas de Malta vivem e ensaiam graciosos passos de dança as temíveis medusas (jellyfish, peixe gelatina), conhecidas entre nós por alforrecas. Picam (ou queimam?) que se farta e há avisos a anunciar a sua presença por tudo quanto é sítio. Digamos que sobre o paraíso se abateu, pronta a retirar-lhe alguma beleza e encantamento, a urticante maldição das alforrecas.



8. Todos os sítios de Malta são já e só uma lembrança do tempo em que, andando muito a pé, mal se dava pelo cansaço. Dias em que parecia andarmos nas nuvens, portanto sem colocar os pés no chão.


Recordar agora esses dias é regressar a uma alegria que não se extingue, porque os grandes dias são aqueles em que o tempo passa sem darmos conta disso e nos parecem mais pequenos. Alegria breve – mas duradoura.